Assembleia de Deus Online

A fé que dá emprego e prosperidade

   •   27 Julho, 2010
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Modelo baseado na fé ensina populações rurais pobres a usar o ofício para sair da pobreza.

feprosp Um dia o missionário Canadense Don Kantel colocou 400 pintinhos em um recinto fechado em Mieze, aldeia de 20 mil habitantes, ao norte de Moçambique, todas as crianças da aldeia se reuniram para assistir curiosas ao que aconteceria a seguir. Antes da remessa de pintinhos chegar, Kantel preparou metodicamente o recinto e explicou aos moradores o processo de alimentação e fornecimento de água aos frangos, bem como a limpeza regular do espaço. Os Moçambicanos não entenderam por que alguém faria todo este trabalho por algumas aves magras. Galinhas correm soltas na África, comendo o que encontram, principalmente insetos e lixo. Mas ninguém se importa com elas. Kantel e sua esposa, Elizabeth, especialista em cuidar da saúde em comunidades, estavam determinados a criar um modelo híbrido para transformar a vida entre as famílias mais pobres da África, através da geração de empregos e de esforços evangelísticos. Por meio da Iris Ministries, uma missão para crianças órfãs e vulneráveis, os Kantels ajudaram a lançar tal modelo em Mieze. O projeto reúne agricultura, criação de animais, cuidados de longo prazo a órfãos, educação e uma igreja recém instalada, tudo de maneira economicamente sustentável. A maior parte de sua vida, Kantel foi, por suas palavras, “como um elitista”, um acadêmico que fundou a St. Stephen’s, uma pequena universidade Cristã em New Brunswick, Canadá. Ele demonstrava pouco interesse no destino dos pobres rurais. Quando pensava sobre a questão da pobreza, argumentava que os pobres provavelmente eram os autores de sua desgraça. Ele nunca imaginou a si mesmo como um “Don Papa” – um cientista político aposentado sujando as mãos no combate à pobreza. Kantel sorriu ao ver os pintinhos a solta correndo. Tudo estava indo conforme o planejado. Mas antes que o dia terminasse, Don e Elizabeth enfrentaram uma crise. Os ventos começaram a uivar, nuvens de tempestades se formaram e tiveram início as chuvas torrenciais. Um ciclone potencialmente mortal se deslocou do Oceano Índico. Tempestades como essas podem trazer ventos de cem milhas por hora e provocar enchentes catastróficas. As galinhas estavam presas na chuva fria, assim como seus filhotes amontoados. Seus abrigos ao ar livre ofereciam pouca proteção. Kantel temia que a tempestade pudesse aniquilar o projeto. Correu para dentro do recinto e recolheu alguns pintinhos. Como deixou o projeto naquela noite, teve certeza de que a população de frangos remanescente seria dizimada pela manhã, assim como as perspectivas dos criadores de frango. Ajuda para o comércio – Enquanto Kantel esperava a tempestade passar em sua casa e de Elizabeth, próxima da aldeia, sua mente relembrava os progressos impressionantes obtidos pelas crianças de Mieze durante os últimos 14 meses. Em 2007, no início do projeto, cerca de 60 crianças se mudaram para novas casas. Elas eram apenas como muitas outras crianças de Moçambique, abandonadas devido à recente guerra civil, portadoras do vírus HIV/AIDS ou vivendo na pobreza extrema. Não possuíam outra coisa se não os trapos esfarrapados que vestiam. A maioria estava completamente perplexa com seu novo estilo de vida. Nunca haviam dormido em uma cama, comido três refeições ao dia, acionado um interruptor de luz, ou visto o próprio rosto em um espelho. “Algumas das crianças foram muito arredias. Outras muito agressivas”, diz Kantel. “Todas vieram de contextos de privações inimagináveis, e algumas também foram vítimas de abuso”. Poucos meses depois de se mudar para o complexo, as crianças estavam bem vestidas, bem alimentadas, mais sociáveis, saudáveis e felizes. Sempre que Kantel acordava pela manhã, pedia a Deus que fizesse daquele dia uma oportunidade para ajudar as crianças a se tornarem líderes em sua geração – foi assim que começou sua idéia para a criação de frangos. Para a comunidade de Mieze crescer e prosperar, seus membros precisam aprender como fabricar produtos de qualidade para vendê-los. O comércio, o intercâmbio de bens e serviços através da fronteira, é um meio de combater a pobreza crônica, no contexto da aldeia. Quanto maior o mercado para o qual se pode vender, mais postos de trabalho podem ser criados. Moçambique geralmente está entre as dez nações mais pobres do mundo. O país obteve a independência de Portugal em 1975, após 400 anos de domínio colonial, o qual trouxe a escravidão e a discriminação generalizadas. Uma guerra civil teve início e o país caiu nas mãos de uma facção Marxista que nacionalizou a economia e negociou com a União Soviética. Após a queda desta, em 1991, muitas indústrias foram privatizadas por reformadores Moçambicanos. Mas a economia do país se mantém muito fraca. A taxa de desemprego é alta, e 80% dos seus 21 milhões de habitantes sobrevivem da agricultura de subsistência. A maioria dos Moçambicanos vive com uma colheita escassa e sofre com a fome. Enquanto o auxílio global dá lugar à ajuda alimentar e à assistência emergencial para os Moçambicanos (como fizeram após o Ciclone Eline, em fevereiro de 2000), as organizações de socorro geralmente não são preparadas para criar negócios sustentáveis que ofereçam empregos de longa duração. A Organização Mundial do Comércio (OMS), vendo as limitações dos programas tradicionais de ajuda, organizou em 2005 uma iniciativa chamada Aid for Trade (Ajuda ao Comércio). Seu objetivo era auxiliar os países pobres no “fortalecimento de suas economias, através do desenvolvimento da capacidade produtiva, permitindo assim que exportassem mais”. O aumento do comércio e das exportações oferece um grande potencial para tirar as pessoas da pobreza. Mas o comércio não é o remédio para todos os males, pois traz problemas que a tradicional ajuda direta não traz. Por exemplo, de maneira diferente, algumas nações carentes, como o Sudão e o Quênia, têm fortes exportações (petróleo, café). Mas o sistema de comércio ás vezes deixa os trabalhadores locais soterrados em favor de agências governamentais e corporações multinacionais. O governo do Sudão usa 70% de seus lucros com o petróleo para ampliar sua força militar. Além disso, programas de comércio no contexto das aldeias são difíceis de sustentar, devido a diversos fatores incontroláveis (guerras, secas e corrupção política) que muitas vezes interrompem o progresso. Mas, se as desigualdades do comércio são minimizadas e tais programas criam raízes, geram postos de trabalho duradouros. Serra Leoa, com suas exportações de gengibre, está entre os países Africanos beneficiados recentemente pela ajuda de reforço ao comércio. O gengibre é utilizado para conferir sabor a uma bebida local, como especiaria na Europa, e usado como um óleo na Índia. Com uma doação de US$ 100 mil iniciais e três anos de esforço, recentemente, Serra Leoa exportou seu primeiro estoque de gengibre em vinte e dois anos. Kantel, depois de ver o que os moradores de Mieze poderiam realizar, determinou que os frangos e ovos de galinha seriam um bom ponto de partida. Ricos e pobres em todo o mundo consomem por ano mais de 60 milhões de toneladas de ovos de galinha. Mas a África é o segundo menor continente na produção de ovos. Há muito espaço para crescimento. A África do Sul, vizinha de Moçambique, tem a maior economia da África e, recentemente, estabeleceu uma meta de duplicar sua produção e consumo de ovos de galinha. A próxima geração – Depois de passar a noite sem dormir preocupado com os pintinhos no ciclone, Kantel retornou cedo ao projeto Mieze na manhã seguinte. As crianças e os funcionários do projeto moçambicano o saudaram com entusiasmo. Eles permaneceram acordados durante toda a noite no abrigo a céu aberto, secando, aquecendo e protegendo os pintinhos. Quase todos haviam sobrevivido. No processo, as crianças tomaram posse do projeto. Daquele dia em diante, elas – agora com mais instrução – começaram a administrar o galinheiro por si mesmas. Todos os dias sentam no interior do recinto, aguardando com expectativa. Quando um ovo é colocado, elas saltam para pegá-lo e imediatamente o colocam em uma geladeira para vender no mercado local. A granja agora está em seu próspero terceiro ano de funcionamento. No início de 2008, o primeiro ciclo de produção foi comemorado com uma festa do frango para 500 membros da igreja, além de convidados e moradores de Mieze. A fazenda também expandiu sua produção de ovos e fez uma parceria com a Technoserve, uma instituição de caridade voltada para o desenvolvimento de negócios, para reduzir os custos de alimentação e de material de alimentação. Neste verão, eles dedicarão mais terras para a granja. No entanto, os olhos de Kantel permanecem fixos no horizonte. Ele disse que as crianças de Mieze precisarão de empregos e de funções, além de um crescimento da economia, quando completarem 18 anos. David Bronkema, diretor de programas de desenvolvimento na School of Leadership and Development (Escola de Liderança e Desenvolvimento) da Eastern University (Universidade do Leste), perto da Filadélfia, disse que gosta do projeto Mieze porque “ele busca oferecer oportunidades de empregos futuros, o que é um caminho fundamental para aliviar a pobreza”. O projeto inclui o desenvolvimento de água potável, um programa de assistência alimentar para outras crianças vulneráveis na aldeia, uma igreja, uma comunidade de saúde e um programa de acesso à escola, além de uma fazenda que a comunidade possa usar para produzir e vender alimentos. João Juma, um talentoso Moçambicano fundador de igrejas, incorpora o caráter Cristão do projeto Mieze. Seis anos atrás, Juma começou uma nova igreja na periferia da vila. Desde então, a igreja cresceu 300 por cento, e um novo santuário com capacidade para mais de 500 pessoas está quase concluído. Grande parte do crescimento é devido ao trabalho evangelístico realizado com crianças não-Cristãs durante o culto matinal de sábado e os ensinos da Bíblia. O pastor Juma trabalha junto com os Kantels para integrarem instruções Cristãs na formação profissional. Juntos, eles preveem um momento em que mais jovens poderão explorar suas próprias granjas ou fazendas de caprinos, leite, queijo e carne. Para os moradores, trabalhar na agricultura e na pecuária proporciona alguma proteção contra o lado negro da globalização, pois seus produtos podem ser consumidos, bem como vendidos no mercado aberto. Este não é o caso do algodão, do ouro e de outras mercadorias que estão sujeitas às oscilações de preços. Justiça, Emprego e Turismo – Cristãos especialistas em desenvolvimento acreditam que as práticas comerciais injustas ou ultrapassadas muitas vezes trabalham contra os objetivos da ajuda direta de caridade. Os especialistas observam os seguintes exemplos: • O comércio internacional movimenta cerca US$ 10 milhões por minuto, mas hoje os países pobres representam apenas 0,4 por cento do mundo do comércio. As Nações Unidas estimam que as regras do comércio injusto negam às nações pobres cerca de US$ 700 bilhões por ano. • O comércio frequentemente funciona a favor dos países ricos e das grandes corporações. Após uma recente negociação comercial preliminar, especialistas estimaram que os países ricos devem ganhar US$ 141,8 bilhões por ano, enquanto a África como um todo deve perder US$ 2,6 bilhões por ano. • Subsídios agrícolas nas nações desenvolvidas encorajam a superprodução de certos produtos alimentares como o arroz e o trigo. O excedente é geralmente objeto de dumping nos mercados mundiais, derrubando os preços. Bronkema disse que quando fala com os evangélicos, sempre pergunta: “O que você acha que causa a pobreza?”. Pouquíssimos mencionam as empresas ou a geração de renda. “A maioria não percebe que não existem empregos”. Kantel acredita que a pobreza crônica em lugares como Moçambique não será derrotada a menos que os pobres tenham um melhor acesso aos recursos e aos mercados. O comércio agrícola é crucial. O comércio de produtos de origem animal cresceu de US$ 55 bilhões em 2000 para US$ 93 bilhões em 2006. Os países em desenvolvimento representam apenas 20 por cento das exportações mundiais desses produtos. Países como Moçambique tem espaço para aumentar sua participação. Depois de olhar para possibilidades de comércio para além dos ovos, frangos, carne de bode, manga e limão, Kantel e a Iris Ministries decidiram explorar o turismo, setor de maior crescimento da economia de Moçambique. O rendimento do turismo para 2005 tem crescido 37% em relação ao ano anterior. Eles estão fazendo planos de criação de pequenas empresas e lojas para atender aos turistas e à indústria de serviços. Isso irá ao encontro do seu desejo de sensibilizar e ampliar o comércio em novas áreas. Com milhares de kilômetros de costa intocada e uma fauna exótica, as perspectivas para o crescimento do turismo são enormes. Este setor traz consumidores e possibilita o intercâmbio estrangeiro na economia de um país em desenvolvimento. Através de programas de formação profissional, a Iris Ministries está preparando jovens órfãos para atuar nestes setores. Com a consolidação das leis e as garantias empregatícias, muito mais pessoas podem ter sucesso em fazer parte das 32 mil que já trabalham com o turismo. O objetivo de Kantel é que mais Cristãos optem por passar as férias em países em desenvolvimento. Mundialmente, o turismo baseado na fé, incluindo missões de curto prazo, gera cerca de US$ 10 bilhões para a indústria por ano. Programas oferecendo uma viagem missionária, que incluem um roteiro turístico, já existem no Quênia e na República Dominicana. Nesses programas, os visitantes Cristãos têm uma oportunidade bem definida de complementar o voluntarismo com as férias, onde poderão encontrar, no menu do café da manhã, ovos frescos vindos de um vilarejo como Mieze. Kantel não pode prever um tempo em que a ajuda ao comércio apagará a necessidade de programas de auxílio direto, mas ambas podem complementar-se. Ele disse “a ajuda prudente e equilibrada, que atende às necessidades imediatas e correntes e também às metas de longo prazo e desenvolvimento, é realmente um componente essencial no posicionamento de uma nação para ser um competidor no mercado internacional”. Cassandra Soars é escritora e vive em Moçambique. É repórter internacional da Christianity Today. Atualmente é mantida por doações do Ministério John Stott. Traduzido por Joanna Brandão

  1. anderfisico@hotmail.com disse:

    Glória a Deus! Uma excelente matéria. Acretido que assim como Kantel a pobreza crônica não será derrotada a menos que os pobres tenham um melhor acesso aos recursos e aos mercados. Isto é evidente, pois numa economia o mercado não sobrevive sem o consumidor e nem o consumidor sobrevive sem o mercado. Infelizmente a maiorias dos países pertencentes ao continente Africano, ainda não são vistos como nações, mas sim como colônias de exploração…isso mesmo, aquelas colônias de exploração que estudamos no Brasil Colonial. O Pior que essas colônias não são exploradas apenas por países mais ricos ou de outros continentes…são exploradas pelos próprios políticos desses pobres países. Para se haver uma reforma econômica em um país, é necessário primeiramente uma reforma política. Eu posso até ser o homem mais rico do mundo, mas se não souber administrar meu patrimônio não adianta de nada. Eu posso fortalecer o comércio, criar a reforma agrária, e fazer “n” coisas em prol do social, mas sem uma reforma política tudo isso seria momentâneo ou impossível. Para o continente Africano não basta somente acabar com a misséria, com a fome. No mundo existem 6 bilhões de Habitantes..desses 6 Bilhões a metade, ou seja, 3 Bilhões podem contribuir com no mínimo 1,00 dolár pra um “imaginário fundo de reserva contra a fome”. Então teríamos 3 Bilhões de Dólares que daria para comprar alimentos por toda a vida dos outros 3 Bilhões de Habitantes que não possuem condições de contribuir com no mínimo 1,00 dólar para o ipotético fundo de reserva contra a fome. Mas fica evidente que o problema da África não é só dinheiro, fome….é cultural, religioso e principalmente político. A África precisa acabar com a misséria sim..isso é óbivio, e toda a ajuda é bem vinda, mas ela precisa começar acabando com a pedra que esta dentro de casa.
    Abraços..

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